Parece escrita por um autor mexicano, dos bons, caso fosse uma novela. Tem personagens da mais diferente sorte e o resultado disso é que o folhetim BR 262, a estrada da morte, continua a ocupar o jornalismo capixaba de ponta a ponta. Todo dia tem novidades, quase sempre factoides fruto dos mais experientes políticos ou autoridades. Só tem um problema: esta novela mata de verdade e deixe sangue em sua pista coberta de asfalto esburacado ou em recuperação.
Na verdade, ninguém quer a personagem principal desta novela. Há vários motivos, além da falta de boa vontade dos participantes. Há a questão do traçado, deveras sinuoso, com curvas em excesso e exalando perigo a cada acelerada; há o solo em que a estrada está construído, que sofre muito com a erosão e as chuvas; além da irresponsabilidade de algumas autoridades, que veem na rodovia tão somente um elo de ligação entre o Sul do Espírito Santo e a região próxima à capital mineira. São estes algumas das razões que levam a 262 a ser uma novela sem fim.
Não há razões lógicas ou insuperáveis para se adiar a duplicação da rodovia, a melhoria da trafegabilidade e a tão esperada privatização. Acho que é um das poucas estradas do Brasil em que todos torcem para a privatização. Bem, o que pode ser feito é pressionar as autoridades federais – a BR é uma estrada do Governo Federal – a ludibriarem aqueles argumentos estapafúrdios e contraditórios de que não há saída para a rodovia.
Ora, é só pesquisar nas páginas do portal Hoje ES e verificar que há um preço muito caro nisto tudo: vidas humanas, interrompidas pelos autores da novela que não querem dar um desfecho decente ao folhetim. Quase todos os dias, atestam-se nas páginas do Hoje mortes e mais mortes frutos da não duplicação e da irresponsabilidade de meia dúzia de gatos pingados.
O atual ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, entrou nesta novela há poucos dias, quando em reunião com a bancada federal capixaba, na terça-feira (17), garantiu a retomadas das obras de duplicação na BR-262 no próximo ano no trecho de sete quilômetros em Marechal Floriano. O encontro com os parlamentares do Espírito Santo ocorreu na sede do ministério, em Brasília. Será verdade ou mais um rolo da novela?
“Este encontro trouxe uma solução importante para a BR-262. A bancada vai aportar os recursos necessários para que possamos concluir este trecho que foi iniciado, mas paralisado por decisão do TCU. Agradecemos muito ao ministro Tarcísio e ao governador Renato Casagrande, que foram fundamentais para junto da bancada conseguir uma solução para este impasse”, disse o deputado federal Da Vitória, coordenador da bancada capixaba.
Esperamos que desta vez o governo Federal atenda os justos apelos da bancada capixaba e que tudo isso tenha um bom final. Se bem que só o trecho de Marechal Floriano é um remendo. Mais ação, autoridades. E este mórbido editorialista lembra que possivelmente, enquanto elaboramos este texto, mais um acidente pode ter acontecido e ceifado mais vidas. Até quando?