Por Tiago Turini
A análise da vitória de Donald Trump traz importantes insights sobre a dinâmica da comunicação política e suas implicações para campanhas futuras. Vejamos esses pontos com mais profundidade:
Influência Econômica na Comunicação
O capital foi um fator determinante. Nos EUA, como aqui, os recursos financeiros permitem desenvolver campanhas robustas que alcançam mais pessoas de forma mais segmentada. O marketing político atual, especialmente em plataformas digitais, exige investimentos para competir e superar algoritmos que priorizam conteúdos patrocinados. Um planejamento estratégico e uso eficaz do orçamento são essenciais, especialmente para candidatos com menor financiamento.
Construção de Comunidades e Sentimento de Pertencimento

Foto: Reprodução/Web
Trump conseguiu transformar seu slogan “Make America Great Again” – em português: “Torne a América grande de novo” – em um movimento contínuo, carregado de identidade e pertencimento. Ele reforçou a ideia de um projeto “de todos”, uma abordagem que fortalece o engajamento, tornando seguidores mais do que eleitores: participantes ativos de um ideal comum. No Brasil, campanhas podem se inspirar nisso para criar um senso de pertencimento comunitário em torno de propostas locais.
Narrativa Emocional e Simples

Foto: Tom Brenner/Reuters
A estratégia de envolver emoções como medo e esperança, somada a uma comunicação direta e acessível, é eficaz porque ressoa com a experiência cotidiana do eleitor. Os políticos que abordam questões que afetam diretamente o público, como segurança, emprego e valores culturais, conseguem captar a atenção e simpatia das massas. Esse estilo narrativo é aplicável ao Brasil, onde o eleitor valoriza um discurso que “fala sua língua”.
Fake News e Pânico Moral
O uso de notícias falsas ajudou Donald Trump a criar narrativas polarizadoras que fortaleceram a conexão com certos segmentos do eleitorado. Essas notícias, que ressoam mais com pessoas de extrema direita, frequentemente apelavam a emoções intensas como medo e indignação, aumentando o engajamento e impulsionando o compartilhamento em redes sociais.
Notícias falsas como denúncias de crimes cometidos por imigrantes comendo cães e gatos na cidade de Springfield, no estado de Ohio, distorções sobre opositores e desinformação sobre questões políticas criaram um ambiente de desconfiança e de “nós contra eles”, o que fortaleceu o apoio de grupos já inclinados a vê-lo como defensor da segurança e da “verdade” alternativa.
Esse uso estratégico da desinformação, mesmo que desmentido ao vivo durante um debate, muitas vezes cumpriu o objetivo de reforçar a imagem de Trump como um líder que “diz o que os outros não querem dizer” e combate os inimigos internos e externos. Como resultado, Trump se saiu vitorioso na cidade de Springfield.
Quem Será o Escolhido?

Montagem
Para o eleitor de direita no Brasil, a escolha entre o influencer Pablo Marçal, o ex-presidente Jair Bolsonaro, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como líder conservador pode depender de diversos fatores.
Bolsonaro está inelegível, mas ainda possui uma forte base de apoiadores leais e um histórico de influência política consolidada entre conservadores, especialmente devido ao seu mandato e ao discurso franco e direto que o caracterizou. No entanto, Tarcísio, com um perfil técnico e conservador, tem ganhado notoriedade por suas realizações administrativas em São Paulo, atraindo um público que valoriza a eficiência e a moderação no discurso, embora mantenha valores alinhados com a direita. Já Pablo Marçal, figura emergente com grande habilidade em comunicação e forte apelo em mídias digitais, pode atrair jovens eleitores de direita que buscam novidade e renovação. Já Ronaldo Caiado é conhecido por seu estilo direto e firme, com forte defesa de valores conservadores, do agronegócio e nas diretrizes de segurança pública, buscando sempre manter uma postura pragmática e de liderança.
O “herdeiro” dessa base de eleitores poderá ser aquele que conseguir alinhar autoridade e carisma com uma narrativa conservadora robusta, especialmente em temas como economia, valores familiares e segurança pública. Quem melhor compreender as demandas da base conservadora e fortalecer a identificação com esses eleitores pode se tornar o sucessor mais relevante do conservadorismo no Brasil.
Estudar esse ciclo eleitoral dos EUA permite uma visão sobre como as tendências de comunicação, especialmente no digital, estão evoluindo globalmente. As campanhas podem aplicar lições sobre o uso de narrativa emocional, criação de identidade coletiva e otimização de recursos para atrair, engajar e converter eleitores – e assim ganhar espaço competitivo no cenário atual.
Tiago Turini – Nascido em Cachoeiro de Itapemirim-ES, 44 anos, jornalista há 25 anos, estrategista de comunicação política, graduado em Tecnologia em Marketing, cursando MBA no Instituto IDP de Marketing Político e Comunicação Governamental.